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OPINIÃO: Ainda há quem pretenda o fim da Lava-Jato

A Operação Lava-Jato continua provocando consequências terríveis em parte da classe política. Entretanto, o que está acontecendo agora e um pouco antes com os políticos e administradores do Rio de Janeiro é inusitado e de proporções gigantescas. A prisão preventiva de um governador em pleno mandato popular, em reeleição, é coisa que nunca se viu parecida. Vejam, não se prende preventivamente um governador reeleito sem um fato consistente capaz de abalar as estruturas da sociedade carioca ou qualquer outra. O ministro Fischer do STJ só acatou a representação da Procuradora Geral pela prisão, porque o governador Pezão não cessou os atos de corrupção, mesmo depois da prisão de dezenas de correligionários seus. Solto, continuaria a roubalheira da sua turma como, aliás, vinha fazendo, sem constrangimentos.

A peculiaridade do Rio de Janeiro reside no fato de que nos últimos 20 anos, quatro governadores (Garotinho, Rosinha, Sérgio Cabral e Pezão) foram ou estão presos. Os órgãos de controle, externo e interno, foram todos cooptados pela quadrilha, recebendo propinas ou participando da quadrilha. A Assembleia Legislativa, com função fiscalizadora e de controle do Poder Executivo, integrava a quadrilha com mais de 10 deputados processados e alguns presos, inclusive seu presidente. O Tribunal de Contas, responsável pelo controle externo de todos os poderes e órgãos públicos, foi também cooptado; cinco dos seis conselheiros foram presos, inclusive seu presidente. Restava o Ministério Público Estadual, órgão responsável por fiscalizar a aplicação das leis de evitar o desrespeito às mesmas, pedindo a punição de quem cometa improbidades e crimes contra a administração pública. Há vinte anos nada fez, silenciou.

Por quê? Foi cooptado pela quadrinha, e seu chefe, o procurador geral de Justiça, foi preso e processado por corrupção e lavagem de dinheiro, integrando a quadrilha. Isso só foi possível porque a Operação Lava-Jato passou a investigar e os Procuradores de Justiça Federal começaram a agir. Não restou mais nenhum órgão que zelasse pela moralidade no Estado. Surpresa? Nenhuma. Isso não é peculiaridade do Rio de Janeiro. Estão pipocando fatos criminosos desse tipo em Curitiba, São Paulo, Minas, Roraima, Brasília e outros, sem contar a Câmara Federal e Senado, além de Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Os mais sonhadores devem estar comemorando o fim da impunidade e punição dos malfeitores com o dinheiro público.

Comemorar os resultados sim; o fim da prática criminosa, não. Continuarão a prática como se nada os abalasse, tanto que alguns presos por ato de corrupção, mesmo na cadeia, estavam perpetrando crimes dessa espécie. Felizmente que essa operação está dando resultados e que, se não vai resolver, e não vai, pelo menos fiquemos com a sensação de que estamos tentando evitar que nos roubem. Não esqueçamos de que a cadeia não assusta o delinquente, por mais certeza que ele tenha de que será alcançado e punido. Só tem medo das consequências do desrespeito à lei o honesto, o probo, o de caráter e essas virtudes não se reconstituem com cadeia, ainda que esta seja a única forma paliativa de punir.

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